4 de maio de 2010

Somos ou não um estado laico?

Se somos um Estado laico, porque é que o país tem que parar por causa da visita do Papa Bento XVI a Portugal?
Não é que eu seja contra a vinda do Papa, mas enfim...
Fica a questão...


Quero ver se, quando o Dalai Lama vier outra vez a Portugal, o país também vai parar para o receber... Da última vez não parou...

5 comentários:

Anónimo disse...

O país "pára" porque as pessoas querem ver o Papa, não é o Estado que obriga as pessoas a irem ver o Papa.

Quantos portugueses querem ver o dalai lama?

Não sei se sabe que a laicidade implica que o Estado não se imiscui na religião, e vice-versa. Mas o povo não tem que deixar de ser religioso por causa disso, nem o Estado tem que deixar de tentar proporcionar o bem-comum por causa disso.

xana - ineedmorethan24hours.blogspot.com disse...

Eu qero ver o Dalai Lama e então? E acredito que muita gente residente em Portugal o queira também, devido à heterogeneidade cultural que cada vez mais existe no nosso país.

A visita do Papa não é um bem-comum para a sociedade portuguesa, só porque a maioria é católica cristã. E passa até a ser um MAL-comum, isso sim para todo o país, a partir do momento em que se gastam milhares e milhares para receber Sua Santidade, quando o país está cada vez mais à beira da falência, como bem sabe (ou não).

Como disse, não sou contra a vinda do Papa a Portugal, penso até que o devemos receber com todo o respeito que merece. Apenas acho ridículo todo este espectáculo criado à volta deste "evento", quando as nossas energias, esforços e dinheiro deveriam ser aplicados em obras muito mais dignas e necessárias que esta.

Porque é que me obrigam a não ter aulas na universidade, a aprofundar os meus conhecimentos, estando inclusivamente a pagar propinas, para ter uma tolerância que a mim não me interessa?... Não concordo é com isso! Se querem deixar o povo ver o Papa, não têm que obrigar os que não querem a ficar em casa, a perder tempo, quando ele já é tão apertado!
Nós até já temos poucos feriados ao longo do ano… até dá jeito mais um diazinho e meio. Deve ser para continuarmos a ser um país pouco produtor, que não gera riqueza nenhuma, que não tem nem 1% de crescimento ao ano, mantendo sempre a dívida pública e o desemprego bem nos tops europeus! :)

Enfim… é o país que temos…

P.S.: assinar não fica nada mal x)

João Silveira disse...

Tem razão, só não assinei porque não estava no meu computador. Não gosto de anonimatos, gosto de nomes, verdadeiros de preferência.

“Eu qero ver o Dalai Lama e então? E acredito que muita gente residente em Portugal o queira também.”

Pode querer ver quem quiser, eu também quero ver muita gente. Mas não podemos comparar o que não é comparável, nas Missas do Papa são esperadas 300 mil pessoas em Lisboa, 500 mil em Fátima e 200 mil no Porto. Mais os milhões que vão estar a ver na televisão. Dizer que o Papa tem que ser tratado como o Dalai Lama é pôr uma venda nos olhos, e o Estado não deve fazer isso.

Por ex. em Lisboa há mil igrejas, imaginemos. Se o Estado fosse laico nesse sentido de todas as religiões terem de ter as mesmas condições, então teriam que existir mil templos hindus. Estariam vazios, mas teriam que existir. Ou então destruir-se-iam 999 igrejas, e ficavamos com uma, e um templo hindu, assim sim haveria “justiça”. Isso não é ser laico, é ser estúpido.

Vejo-a muito revoltada contra a tolerância de ponto de dia 13, mas atmbém se revolta assim quando o Estado, quase todos os anos dá tolerância de ponto entre o 10 de junho e o 13 de junho, em Lisboa. Já o 13 de junho também não deveria existir, laicamente falando. E a tolerência de ponto de dia 24 de dezembro, não a preocupa? Não é feriado nenhum, é véspera de um feriado que ainda por cima é católico! Para o Estado ser laico teríamos de ter feriados hindus, ou então não ter nenhum.

E o dinheiro que diz que o Estado está a gastar, é em quê ao certo? Na operação de segurança? Muito bem, é um chefe de Estado, fará isso mesmo, ou melhor, quando cá vier o presidente Obama. Que custos a revoltam?

E se o país está tão em crise, não a revoltam também os 10 milhões de euros que este ano estão a ser gastos nas comemorações do centenário da república? 10 milhões de euros para comemorar um acontecimento com 100 anos, cuja relevância prática para os portugueses é muito baixa, aceita isso de bom grado?

xana - ineedmorethan24hours.blogspot.com disse...

Eu peço desculpa pela demora, mas sou (muito) estudante, a minha vida anda a mil à hora e no meio disto tudo tive que arranjar muita paciência para responder.

Portanto, relativamente às pessoas esperadas para assistirem às missas do Papa, façamos uma pequena análise deste primeiro dia: “entre 80 a 100 mil estiveram hoje no Terreiro do Paço” (Fonte: jornal Público); “200 mil benfiquistas no domingo festejaram (…) na rotunda do Marquês de Pombal (Lisboa)” (Fonte: DN).
Ora, quer-me parecer a mim que em 90min se juntou o dobro de pessoas de um mero clube futebolístico das que estavam presentes na eucaristia Papal... E olhe que até sou do Sporting e não ligo nenhuma a “futebóis”. Mas, o que quererá isto dizer? Se calhar, tal como eu até suspeitava, não são assim tantos os interessados em ter tolerância para ver Sua Santidade.
Mas pronto, isto eu deixo ao critério de cada um. Só acho uma situação muito hilariante. A sério que sim.

Prossigamos... O seu argumento contra as minhas palavras é… como eu hei-de dizer? Descabido. Irrealista. Chega até a tocar no ridículo, devo dizer. Isto porque, uma coisa é argumentar – e as pessoas são até livres de opinar à vontade -, outra bastante diferente é disparatar. O facto de existirem mais igrejas que templos, se calhar tem a ver com a história e cultura portuguesa, não sei, digo eu. Também não quero entrar em pormenores, mas o catolicismo esteve presente em Portugal, a deixar as suas marcas (lindas, devo dizer. Sou grande apreciadora de arte sacra) durante séculos e séculos. Portanto, quer-me parecer a mim que essa comparação é desprovida de bom gosto.

Já que este ainda é o meu blog e, pelo facto de ser meu, tenho o digno direito de escrever nele o que quero e penso, devo dizer-lhe que, aos meus olhos e à minha mentalidade herege, o presidente Obama parece-me uma entidade com bastante mais importância, que faz mais pelo mundo (pelo facto de ser o presidente do paíszinho do qual todos dependemos, infelizmente) que o Papa. Isto tudo para dizer o quê? Que sim. Que acho ridículo os gastos que se tiveram com a operação de segurança ao Papa e em todas as outras coisinhas fofinhas que se prepararam.

Quanto aos feriados, tudo o que impõe uma celebração de carácter religioso num estado que se diz laico, sou contra e muito contra! Pois não faz sentido nenhum. É um paradoxo.

Acredite que muita coisa neste país me revolta. E se é para falarmos de gastos públicos aplicados pelo Governo, ficamos aqui até ao virar deste século…

João Silveira disse...

Bem, se é para falar de números: A RTP captou imagens de helicóptero na baixa de lisboa onde se concentraram milhares de pessoas
São imagens impressionantes de uma multidão que enche por completo o Terreiro do Paço e todas as suas que conduzem a esta praça. Relembro os números da polícia, no Terreiro do Paço para assistir à Missa celebrada por Bento XVI estiveram mais de 80 mil pessoas. Na baixa foram mais de 200 mil que não conseguiram lugar no Terreiro do Paço.
Estes são números da polícia. Por isso nem com o benfica consegue argumentar, e eu sou benfiquista, e estive no marquês de pombal. Além disso vamos ver quantas pessoas vão estar em Fátima.

O meu argumento é “descabido” e “irrealista” da mesma forma como o seu de comparar a visita do Papa à visita do Dalai Lama é descabida e irrealista, espero que já tenha percebido isso.

Se acha que o presidente Obama fez muito pelo mundo, basta ver que ainda não parou de mandar tropas para o Afeganistão, é o maior contingente de sempre, nem o Bush se atreveu a tanto. As loucuras do mercado financeiro voltaram ao que eram, sinceramente não vejo muitas diferenças entre Obama e Bush. Ah, calma, o Obama é a favor do partial birth abortion, uma prática bastante humana.

Parece que a vejo muito revoltada, se calhar devia ler com atenção o que o Papa nos veio dizer.