22 de fevereiro de 2010

"Porquê a mim?" Bernardo Teixeira

Esta é a história de um rapaz que sofreu abusos sexuais na Casa Pia.
Tive o previlégio de o ter presente num trabalho meu para a faculdade e de poder ter conversado com ele em jeito mais privado e particular, antes desta mesma apresentação. Apesar de me ter elucidado em duas horas tudo aquilo por que passou, não há nada como ler o livro onde retrata tudo ao pormenor.
É impenssável e inacreditável como tudo isto pôde ter acontecido a centenas de crianças, numa instituição do Estado que prometia a salvaguarda e o bem estar de todas as que tinha a seu cargo.
É revoltante e absurdo como, apesar de todos sabermos a verdade, ninguém sair punido.
É desumana a forma como este rapaz - e todos os outros -, hoje jovem adulto, foi deixado ao abandono, sozinho, durante um processo que o fez chegar ao limite da pobreza. Da dignidade humana. Da injustiça. Da dor e do sofrimento.
Pela primeira pessoa, conseguimos (quaze, porque tamanhas barbaridades são impossiveis de imaginar a cem por cento) colocar-nos na pele de quem esteve envolvido (como vítima) no processo mais escandaloso da História portuguesa. Conseguimos sentir um bocadinho daquilo por que ele passou. E sentimos que, para alguns, a vida será sempre um antro de armadilhas, como o próprio elucida.
Agradeço também a conversa que tivemos com Bernardo Teixeira, pois vai-me dar muita bagagemzinha para o que se aproxima.
Podia ficar aqui a contar a história, mas não o faço para que a conheçam por vocês mesmos. Leiam. É sem dúvida um dos relatos mais emocionantes, contado na primeira pessoa, verídico, que alguma vez poderão ler.


Hoje, penso no porquê. O porquê de tudo isto acontecer. Se eu acreditasse em muitas coisas, poderia pensar que numa outra vida me portei muito mal e que por isso estava agora a ser castigado. Mas eu já não acredito em Deus. Sou alguém que apenas acredita naquilo que vê. E principalmente, sou um jovem, que acredita no Homem.
Acredito que o Homem é capaz de grandes feitos. Feitos que podem levar a que as nossas vidas sejam vividas com alegria e sorte. Mas também sei que o Homem é capaz de criar teias e armadilhas, teias que nos enrolem e armadilhas que nos façam cair.

Em jeito de conclusão, daqui para a frente estarei mais atenta. Hei-de dar sempre ouvidos. Defenderei os que, inflizmente, no nosso país não são ouvidos dignamente. E, sobretudo, protegê-los daquilo que ninguém merece viver.
Sei que não posso mudar o mundo. Nem mesmo o nosso país que cada vez mais vai decaindo. Mas sei que posso tentar mudar o espaço pequenino onde vivo. Basta querer e crer. Ter vontade e acreditar que é possivel. Se assim não fosse, continuávamos sempre no mesmo. Evolução era palavra que não existia.

Só espero que mais pensem como eu...

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